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“Estava bem”, diz avó, inconformada com morte de bebê de 2 anos em Aquidauana


Mãe de adolescente diz só ter uma certeza: filha jamais faria mal ao neto, que partiu cedo

Por Anahi Zurutuza

Mãe e filha em foto publicada pela adolescente em rede social. (Foto: Facebook/Reprodução)
A avó do bebê de 2 anos, que chegou morto ao Hospital Regional de Aquidauana, na madrugada desta segunda-feira (3), ainda tenta encontrar explicações para o que aconteceu com o neto. Ela só tem uma certeza: a filha, uma adolescente de 14 anos que foi mãe aos 12, nunca faria mal ao menininho.

A avó diz ter visto o neto, pela última vez, na manhã de domingo (2). “Ele, domingo de manhã, ele saiu de casa bem, ele mamou, ele comeu. Ele saiu e foi para a casa do meu filho com ela [a mãe], ele estava bem. Aparentemente, ele estava bem. Não tinha nada”, repete, como se tivesse falando para si mesma.

Em entrevista ao portal O Pantaneiro, de Aquidauana, a mulher conta como foram as turbulentas últimas horas. “Depois, quando eu fui ficar sabendo, ele já estava lá no hospital, já sem vida. Virou uma reviravolta danada, a gente não consegue uma explicação”.

Causa da morte – O bebê morreu “nos braços” da mãe de 14 anos e o que a Polícia Civil ainda investiga é o que levou o pequeno a essa condição fatal.

Consta no atestado de óbito, ao qual o Campo Grande News teve acesso, que o menino sofreu um choque cardiogênico agudo (quando o coração perde a capacidade de bombear sangue), por consequência de duas outras condições cardíacas, tamponamento e derrame pericárdico.

O documento prova que o garotinho não foi vítima de violência física e que o bebê também não morreu engasgado, como afirmou a mãe da criança, numa das versões que deu à polícia.

A causa é natural, mas a reportagem apurou que o estado de saúde do bebê também será investigado e uma das possibilidades é que quadro de desnutrição severa possa ter evoluído mal. Em conversa com pediatra, que pediu para não ter o nome ligado ao caso, já que o bebê não era seu paciente, a reportagem entendeu ainda que o colapso pode ter sido provocado por doença cardíaca preexistente, que nunca foi diagnosticada, ou por uma septicemia (infecção generalizada).

Adolescente com o filho no colo, em momento aparentemente feliz. (Foto: Reprodução das redes sociais)
Ataques e medo – A declaração de óbito só ficou pronta no meio da tarde de ontem, mas a avó diz que jamais acreditou que a filha pudesse ter cometido violência contra o bebê, um dos boatos que se espalhou na cidade de 48 mil habitantes em poucas horas. “A verdade vai aparecer, creio que vamos resolver tudo da melhor maneira possível”.

A mulher diz que só deseja por fim aos ataques contra a filha, que já sofre com a perda do bebê, e faz um apelo. “Queria dizer que ela é mãe. Acredito que por ela ter lutado tanto… nós brigamos tanto na Justiça para ela ter a guarda dessa criança. Ela chorava demais, queria o filho perto dela. Por isso, eu creio que ela jamais iria fazer alguma coisa contra a vida do próprio filho. Acredito nela. Peço que as pessoas procurem saber certinho o que aconteceu, antes de julgar”, afirmou a avó na entrevista, revelando detalhe da batalha judicial pela guarda do bebê, que chegou a ser requerida pela avó paterna.

A avó teme que as agressões à adolescente ultrapassem o limite das telas dos computadores e celulares.

A gente está com medo do que venha acontecer com ela, porque estão falando que vão matar”.

Preocupado com a propagação de boatos sobre o caso, o delegado Luis Fernando Domingos Mesquita gravou vídeo, na noite de ontem (3), por volta das 22h, explicando o que havia sido apurado ao longo do dia. “Diante da gravidade do que tem sido publicado, o delegado resolveu gravar vídeo, mesmo sem concluir todas as diligências, para que informações distorcidas não causem dados irreversíveis na vida dos envolvidos”, informou a assessoria de imprensa da Polícia Civil junto com a divulgação do material, onde chefe da investigação confirma a informação divulgada em primeira mão pelo Campo Grande News sobre a causa da morte.

Páginas supostamente jornalísticas em redes sociais chegaram a falar em crime premeditado, o que gerou onda de ódio contra a adolescente.

Hospital Regional de Aquidauana. (Foto: O Pantaneiro)
Entenda – Na madrugada deste dia 3 de abril, o bebê deu entrada no Hospital Regional Doutor Estácio Muniz, de Aquidauana, já em rigidez cadavérica (quando a morte aconteceu horas antes) e o caso passou a ser investigado.

Assustada, a mãe da criança apresentou três versões para justificar o óbito do filho. No primeiro contato com a polícia, ela contou que a tia paterna havia lhe entregado o bebê com o corpinho “gelado”, por volta das 3h desta segunda-feira. Depois, contou outras duas histórias, uma delas, de que o bebê poderia ter engasgado durante à noite com leite ou bolacha, alimentos dados por ela ao filho antes que ele dormisse.

Na manhã desta terça-feira (4), a Polícia Civil informou à reportagem que “ainda estão sendo feitas diligências para apurar se houve algum tipo de negligência por parte da mãe da criança ou outro familiar”.

Desde o início da apuração do caso, o Campo Grande News tem omitido os nomes dos envolvidos, porque é direito da adolescente ter a identidade resguardada, conforme previsto no ECA (Estatuto da Criança e dos Adolescente). – CREDITO: CAMPO GRANDE NEWS