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Último trecho no Brasil da ‘megaestrada’ que liga o país ao Chile tem buracos e falta de acostamento

DNIT diz que tem dois contratos para manutenção e conservação da BR-267, entre Jardim e Porto Murtinho, mas que projeto mais amplo, para revitalização da via, com acostamentos, recuperação do pavimento e terceiras faixas, ainda está sendo elaborado.

Por Anderson Viegas, g1 MS

25/04/2023 13h10  Atualizado há 16 horas


Cratera aberta no meio da pista da BR-267, entre Jardim e Porto Murtinho — Foto: Silvio Andrade

Cratera aberta no meio da pista da BR-267, entre Jardim e Porto Murtinho — Foto: Silvio Andrade

Um trecho de aproximadamente 220 quilômetros na BR-267, entre as cidades de Jardim e Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, que são os últimos no Brasil do chamado “corredor bioceânico“, a megaestrada que vai conectar os portos de Santos (SP) aos do Chile, está em condição precária, com crateras na pista, afundamento de pavimento e falta de acostamento.

Carreta tenta desviar de buracos na pista da BR-267, entre Jardim e Porto Murtinho — Foto: Silvio Andrade

Carreta tenta desviar de buracos na pista da BR-267, entre Jardim e Porto Murtinho — Foto: Silvio Andrade

“Equipes do DNIT [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes] estão trabalhando na recuperação da rodovia, mas não têm dado conta, devido às chuvas e do grande movimento de carretas bitrens. São cerca de 250 todo dia, levando principalmente grãos para o porto. A estrada foi feita há 20 anos, quando nem tinha bitrem, era só caminhão e o movimento era muito menor, então o pavimento não aguenta. Estão trabalhando, mas tem trechos que tem buracos bem feios”, disse o prefeito de Porto Murtinho, Nelson Cintra (PSDB).

A rota bioceânica, segundo estudos do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul (Setlog/MS), deve encurtar em mais de 8 mil quilômetros de rota marítima a distância nas exportações brasileiras para a Ásia, possibilitando o incremento das negociações entre os quatro países por onde passa: Brasil, Paraguai, Argentina e Chile, além de promover a integração cultural e o turismo.

Atualmente, entre as rotas marítimas, uma das mais utilizadas nas exportações de produtos brasileiros para a Ásia, em especial, a China, tem saída pelos portos do sul e sudeste do país e passa pelo Cabo da Boa Esperança, contornando o continente africano. Essa rota possui menos restrições de tamanho para navios graneleiros e não tem taxas relacionadas à travessia.

Trecho da rota bioceânica que passa pela Cordilheira do Andes, na Argentina — Foto: Anderson Viegas/ G1 MS

Trecho da rota bioceânica que passa pela Cordilheira do Andes, na Argentina — Foto: Anderson Viegas/ G1 MS

Trafegabilidade

Para fazer a manutenção e conservação do final do trecho brasileiro do corredor bioceânico, o DNIT aponta que tem dois contratos de prestação de serviço em vigência, justamente para garantir a trafegabilidade do segmento.

Equipes do DNIT trabalham na recuperação de trechos da BR-267, entre Jardim e Porto Murtinho — Foto: Silvio Andrade

Equipes do DNIT trabalham na recuperação de trechos da BR-267, entre Jardim e Porto Murtinho — Foto: Silvio Andrade

Além disso, o departamento licitou e a empresa contratada está elaborando o projeto executivo para a restauração da BR-267, nos últimos 101,1 quilômetros deste trecho, entre o distrito de Alto Caracol, em Caracol e Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul.

Esse projeto, conforme o DNIT, já é voltado para atender um fluxo ainda maior de veículos com o corredor bioceânico, o DNIT diz que estão previstos a implantação de acostamentos, reforma do pavimento, melhorias nas interseções e implantação de faixas adicionais de ultrapassagem (terceira faixa).

O investimento previsto inicialmente para o projeto é de R$ 178 milhões e prazo de execução de três anos (1080), a partir da ordem de serviço.

Ponte da Bioceânica

Obras da ponte da Bioceânica, entre Carmelo Peralta, no Paraguai, e Porto Murtinho, no Brasil — Foto: MOPC/Divulgação

Obras da ponte da Bioceânica, entre Carmelo Peralta, no Paraguai, e Porto Murtinho, no Brasil — Foto: MOPC/Divulgação

Ainda relacionado a megaestrada que vai ligar o Brasil ao Chile, o DNIT aponta que deve lançar ainda este ano a licitação das obras do acesso ao lado brasileiro à ponte internacional sobre o rio Paraguai, que vai ligar a cidade de Porto Murtinho, no Brasil, a Carmelo Peralta, no Paraguai.

O DNIT informou ao g1 que o acesso à ponte faz parte da mesma obra do Contorno Rodoviário Norte de Porto Murtinho.

A obra, conforme o departamento, está orçada em R$ 190 milhões e o prazo de execução é de 1 anos e seis meses. O Contorno Rodoviário Norte de Porto Murtinho terá aproximadamente 13,1 km e partirá do km 678,10 na BR-267.

A ponte está sendo construída em uma área que fica a cerca de 14 quilômetros da BR-267. Um consórcio binacional é responsável pelo empreendimento. O investimento é de R$ 575,5 milhões e está sendo feito pela administração paraguaia da usina de Itaipu.

A estrutura, de 1.310 metros de comprimento e 20,10 metros de largura, é fundamental para viabilizar a Rota Bioceânica. Atualmente, a ligação entre os dois países nessa região é feita somente por balsas.

A ordem de serviço da ponte foi dada no dia 13 de dezembro de 2021 pelo presidente paraguaio Mario Abdo Benitez. Em sua página na internet, o consórcio Pybra, formado pelas empresas Tecnoedil Construtora, do Paraguai, e Cidade Ltda e Paulitec Construções, do Brasil, aponta a conclusão das obras no primeiro semestre de 2025.

As obras da ponte avançam rapidamente. Segundo o Ministério das Obras Públicas e Comunicações (MPOC) do país vizinho, foram concluídas na semana passada as 142 estacas de concreto armado sobre as quais serão erguidos os pilares da estrutura no lado paraguaio. Já no lado brasileiro, foram terminados 61, das 158 estacas previstas. No total, 16% da obra já foi concluído.

Pavimentação no Paraguai

Trecho recém pavimentado da Rota Bioceânica no Paraguai — Foto: MOPC/Divulgação

Trecho recém pavimentado da Rota Bioceânica no Paraguai — Foto: MOPC/Divulgação

No início de março o governo paraguaio assinou o contrato para a pavimentação do terceiro trecho da Rota Biocêanica no país (Rota PY15). É o intervalo entre as cidades de Mariscal Estigarribia e Pozo Hondo, no departamento de Boquerón, com uma extensão de 224,8 quilômetros.

Segundo o MOPC, a obra terá um investimento de US$ 354,2 milhões, financiado com recursos do Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia do Prata (Fonplata) e será executada em três lotes.

O ministério aponta que a partir da assinatura do contrato, as empresas vão ter seis meses para elaborar o projeto final de engenharia da obra e dois anos para executar a pavimentação.

Além do asfaltamento da rodovia, também estão previstas melhorias viárias nas cidades de Mariscal Estigarribia e Pozo Hondo, como construção de rotatórias, acessos aos aeroportos, cabines de pedágio e pesagem de veículos.

Em Pozo Hondo, na fronteira com a Argentina, será construído ainda um centro de controle aduaneiro.

A Biocêanica no Paraguai

Mapa da Rota Bioceânica  — Foto: MOPC/Divulgação

Mapa da Rota Bioceânica — Foto: MOPC/Divulgação

De acordo com o MOPC, no Paraguai a extensão da Rota Bioceânica foi dividida em três trechos para a pavimentação. O primeiro de Carmelo Peralta a Loma Plata tem 277 quilômetros e já está concluído. O investimento na iniciativa foi de US$ 443 milhões.

Em Carmelo Peralta está sendo construída a ponte sobre o rio Paraguai, que ligará o país ao Brasil, por Porto Murtinho.

O segundo trecho da rota no Paraguai vai de Cruce Centinela a Mariscal Estigarribia. Tem uma extensão de 102 quilômetros e investimento previsto de US$ 110 milhões.

Segundo o ministério, sua pavimentação deve ocorrer após o trecho 3, já que existe outra rodovia na região, a PY09, que foi remodelada e pode funcionar como alternativa para o trecho.