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Policial preso recebendo propina é casado com promotora que ‘fiscalizava’ polícias no MPMS

Esposa de policial preso atuou por anos na diretoria do Gacep, grupo responsável por investigar ilegalidades cometidas por policiais

Augusto Torres Galvão Florindo, policial civil lotado no Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros), preso recebendo propina em Campo Grande (MS), é casado com Luciana Schenk, promotora de Justiça do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul).

Luciana é titular da 16ª Promotoria de Justiça de Campo Grande e esteve, por anos, à frente do Gacep (Grupo de Atuação Especial de Controle Externo da Atividade Policial). Além disso, ela atua como assessora especial na Corregedoria-Geral do Ministério.

O Gacep é justamente um órgão especializado dentro do Ministério Público, cuja função é supervisionar e garantir que as atividades policiais sejam realizadas dentro da legalidade, da transparência e com respeito aos direitos humanos.

Em Campo Grande, o Gacep existe desde 2015 e Luciana Schenk, esposa do policial preso, foi diretora do grupo até julho de 2024.

Nesse período, a promotora encabeçou as investigações de denúncias sobre atuações de policiais envolvendo ilegalidades ou abusos de poder, a fim de garantir que os procedimentos fossem executados corretamente pelos agentes das forças de segurança.

Um ano e meio após deixar o cargo, Schenk teve o marido preso em flagrante na última sexta-feira (28), enquanro recebia o pagamento pela comercialização de cigarros eletrônicos , em um esquema com o contrabandista Marcelo Raimundo da Silva, ex-guarda civil municipal.

Diante dos fatos, o Jornal Midiamax acionou o MPMS, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul, a Sesdes (Secretaria Especial de Segurança e Defesa Social) de Campo Grande, a Corregedoria-Geral de ambos os órgãos, e o Garras para se manifestarem sobre o caso. A matéria poderá ser atualizada com os posicionamentos.

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Dinheiro apreendido pela PF seria entregue a Augusto. (Foto: Divulgação, PF)

Denúncia levou ao flagrante

Augusto e Marcelo foram presos pela Polícia Federal de Três Lagoas no momento em que o ex-GCM pagava cerca de R$ 160 mil em propina para policial do Garras, no estacionamento de um supermercado em Campo Grande.

A prisão em flagrante, no entanto, foi convertida para prisão preventiva e as defesas pediram liberdade provisória.

Segundo consta no auto da prisão, a Polícia Federal de Três Lagoas recebeu uma denúncia anônima informando que, na sexta-feira (28), uma mulher realizaria um saque bancário em Campo Grande destinado ao pagamento de práticas ilícitas relacionadas aos crimes de descaminho.

A denúncia foi checada e confirmada pela polícia, que se deslocou até a Capital. Durante as diligências, a equipe da PF flagrou Marcelo e uma mulher indo até a agência bancária mencionada pelo denunciante e saindo do local com uma sacola volumosa de dinheiro, na tarde do dia 28.

Eles foram seguidos, até o momento em que Marcelo parou no estacionamento de um supermercado e estacionou ao lado de outro veículo, onde estava o destinatário do dinheiro, o policial Augusto Torres Galvão.

Suspeitos confessaram

Durante o interrogatório, o ex-guarda Marcelo declarou ter recebido a orientação para entregar a quantia ao policial. A transação, segundo ele, tratava-se de um “pagamento de cigarros eletrônicos”.

Já Augusto não apresentou justificativa para o recebimento dos valores, mas admitiu que o dinheiro entregue por Marcelo é oriundo da venda de produtos contrabandeados, especialmente de mercadorias apreendidas e desviadas.

Na delegacia, Marcelo confessou que participa de esquemas de contrabando e descaminho e disse já ter sido preso diversas vezes por esse motivo. Ele, inclusive, usa uma tornozeleira eletrônica por isso.

Augusto, policial do Garras, afirmou que outros policiais civis também estão na empreitada delituosa, mas não quis identificá-los. Os dois poderão responder pelos crimes de corrupção passiva, corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

Fonte: Midiamax