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Com indígena e idosa, filme “A Trovadora e a Poeta” é gravado em Campo Grande

Curta-metragem une poesia, resistência e ancestralidade em um encontro entre gerações e culturas

Campo Grande foi cenário, na primeira quinzena de outubro, das gravações do curta-metragem “A Trovadora e a Poeta”, obra que entrelaça ficção e documentário para contar a história de duas mulheres reais que representam diferentes tempos e mundos: Terezinha Pantaneira, trovadora popular e cadeirante de 76 anos, e Gleycielli Nonato Guató, poeta indígena da etnia Guató.

Filmado em uma casa simples do bairro Jardim Monte Alegre, o curta transforma o cotidiano em arte, explorando temas como acessibilidade, identidade, ancestralidade e resistência. As protagonistas dividiram também a autoria do roteiro com o diretor Marcus Teles, em um processo colaborativo que, segundo ele, foi “delicado e vivo”.

“A fronteira entre o que é encenação e o que é vida se torna quase invisível”, afirma o diretor. “Minha função foi escutar e criar um espaço de confiança para que elas se expressassem com verdade. Ver Terezinha estrear como roteirista e atriz é profundamente inspirador.”

Aos 76 anos, Terezinha Pantaneira estreia no cinema após uma vida dedicada à cultura popular. Ex-funcionária pública e trovadora de longa data, ela vê o filme como uma oportunidade de denunciar as barreiras enfrentadas por pessoas com deficiência.

“O cinema é uma forma poderosa de dizer que a acessibilidade ainda é um desafio. A cadeira de rodas me revelou o quanto o mundo ainda não está preparado para todos”, afirma.

Gleycielli Guató, que interpreta Lucila — personagem inspirada em sua própria trajetória —, destaca o papel simbólico do rio, elemento central na narrativa.

“O rio é memória, é espiritualidade. Ele representa o que muda e permanece. É também a ligação com a minha ancestralidade Guató, o povo da água”, explica a poeta.

O elenco conta ainda com Breno Moroni, ator com ampla carreira na TV e no cinema, além de Danielly Frangilo e Lilian Arruda. A trilha sonora é de Gian Markes, e a edição, de Rafael Viriato.

Com produção de Jefley M. Cano, direção de fotografia de Daniel Felipe e apoio técnico de profissionais como Márcio Padilha e Ellen Karina Lazcano, o filme deve estrear até o fim de 2025.

Para Marcus Teles, “A Trovadora e a Poeta” é uma celebração da delicadeza como forma de resistência.

“Há força em quem escolhe o afeto e a poesia como formas de existir. A luta e a ternura nascem uma da outra. O filme entende que a poesia não é fuga — é enfrentamento”, resume.

A produção é financiada pela PNAB (Política Nacional Aldir Blanc), do Governo Federal, por meio do Ministério da Cultura (MinC), com edital operacionalizado pela Prefeitura de Campo Grande, através da Fundac (Fundação Municipal de Cultura).

Mais que um curta, “A Trovadora e a Poeta” é um encontro entre gerações, corpos e mundos — um filme-rio que corre entre a arte e a vida, reafirmando o poder transformador da palavra e da escuta.

Fonte: Lucas Arruda