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Avião que caiu no Pantanal fez três voos no dia e pousou pós horário permitido

Investigação apura arremetida, presença de animais na pista e irregularidades na operação da aeronave. Equipe fazia voos diários para gravações e dois membros sobreviveram por não embarcar.

A delegada Ana Cláudia Medina, do Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado), detalhou nesta quarta-feira (24/9) que o avião envolvido no acidente que deixou quatro mortos no Pantanal fez três voos na terça-feira (23/9).

No dia 23/09 o avião tinha feito 3 voos com os membros da equipe de 5 pessoas que se revessavam registrando imagens do Pantanal. O voo que caiu era o último, pois iriam embora no dia seguinte. Os  dois membros que não embarcaram, sobreviveram.

Conforme a Delegada, os deslocamentos começaram às 7h, e o pouso final foi tentado após as 18h, fora do horário autorizado para a pista.

“Eles fizeram três deslocamentos aéreos para fazendas da região e, já no fim do dia, retornavam à pousada. O pouso foi feito depois das 18 horas, quando o permitido era até 17h39, com o pôr do sol. A pista é operada apenas por visual, e essa condição pode ter atrapalhado a visibilidade”, afirmou Medina.

Segundo a polícia, a responsabilidade por observar o horário permitido de pouso cabia ao piloto, Marcelo Pereira Barros — uma das vítimas. Com ele, morreram também os cineastas Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr., além do arquiteto chinês Kongjian Yu.

O acidente ocorreu quando o grupo tentava pousar na Fazenda Barra Mansa, em Aquidauana, a 141 quilômetros de Campo Grande, por volta das 18h30. O avião tinha capacidade para quatro pessoas. Dois membros da equipe sobreviveram por não embarcar: o assistente de fotografia e o assistente de som ficaram em terra.

O grupo era formado por cinco integrantes, além do piloto, e estava hospedado no Hotel Barra Mansa desde sexta-feira (19/9). Durante os cinco dias, realizaram voos diários para coleta de imagens e reconhecimento da região. A tragédia aconteceu justamente no retorno do último sobrevoo antes da partida, prevista para quarta-feira (24/09).

Os dois membros que escaparam também haviam participado das filmagens aéreas, mas em voos anteriores.

Testemunhas  disseram que, na primeira tentativa de aterrissagem, o piloto não conseguiu alinhar a aeronave pois havia um grupo de queixadas (porco do mato) na pista e arremeteu. Na segunda tentativa perderam de vista o avião e logo depois ouviram barulho e avistaram fumaça na região, sinal de que a queda havia ocorrido.

Morreram no acidente aéreo o piloto Marcelo Pereira Barros, os cineastas Luiz Fernando Feres da Cunha Ferraz e Rubens Crispim Jr. e o arquiteto chinês Kongjian Yu.

As equipes de resgate atuaram durante a madrugada de ontem para retirar os corpos carbonizados. Por conta do estado de carbonização, foi necessário coletar material genético com familiares para confirmar oficialmente as identidades. Medina explicou: “Mesmo sem dúvida sobre quem estava a bordo, o estado dos corpos exige confronto genético”.

A investigação também apura as condições da contratação do voo, já que a aeronave não tinha autorização para transporte remunerado de passageiros. O CENIPA (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos) deve chegar ao local para aprofundar as perícias.

A Fazenda Barra Mansa, cenário de gravações da novela Pantanal, restringiu o acesso da imprensa — apenas autoridades estão autorizadas no local do acidente.

A pousada ligada à fazenda afirmou, em nota, que o avião envolvido não fazia parte dos serviços oferecidos pela propriedade, caracterizando-se como voo particular.